domingo, 8 de maio de 2011

Literatura de Cordel [1]

O Encontro de Tieta do Agreste com Carlota Joaquina (ou Quando o Fogo da Paixão é Motivo de Comparação)

Autor: Mauro Machado




Por Favor, Sétima Arte
Dê licença pr'eu contar
Uma história que eu soube
Nessas linhas vou versar
Sai das telas pro cordel
Vou agora começar

Depois que voltou Tieta
Pra Santana do Agreste
Voltou cá gota serena
Voltou virada na peste
Reboliçou-se a Cidade
Com toda Sensualidade
Que Tieta se Reveste

Eram decotes enormes
E ainda tinha minissaia
Batom vermelho carmim
E o tal tomara-que-caia
E de lá a mulherada
Tava bastante assustada
com medo de levar gaia

Foi quando sua irmã Perpétua
Falou de forma ferina:
"Mas Tieta pela virgem
Veja se tu se atina
Pare co'esse rebolado
O povo tem lhe chamado
De Carlota Joaquina"

"E quem é essa Carlota
Que jamais ouvi falar?"
"Pois leia um livro e descubra
Que eu é que não vou contar
Para a Missa vou embora
Porque é chegada a hora
De Ricardo ir Rezar"

Tieta foi a escola
Tomar um livro emprestado
Curiosa pra saber
De quem a tinham chamado
Pra Mangue Seco rumou
E numa sombra ficou
Lendo o tal livro aguardado

Ela Dormiu lendo o livro
Dormiu tanto que sonhou
Nesse sonho ela voltava
Para um tempo que passou
E de cadeira cativa
Do rei quando aqui chegou

Uma comitiva enorme
Que chegou aqui fugida
No centro daquele grupo
Uma figura metida
Que já chegou se achando
Tudo aqui já detestando
E querendo a despedida

Disseram para Tieta
Quem aquela mulher era
E Tieta curiosa
A Seguia feito fera
Era aquilo afinal
Que sua terra natal
A Tieta considera

Não entendia o porquê
Daquela comparação
Afinal ela era feia
E Tieta era não
A Carlota era apática
Grosseira e antipática
Com todos da região

Tieta era gente fina
A todo mundo ajudava
E simpática com todos
Da cidade se orgulhava
Por isso ela a seguia
Dia e noite, noite e dia
Carlota nada notava

Carlota era princesa
Da Espanha e Portugal
Já Tieta no Agreste
É quem era a maioral
Não conseguia entender
O Que as duas tinham a ver
O que tinham de igual

A infância de Carlota
Sim foi a melhor possível
E a infância de Tieta
Essa sim que foi terrível
Pois em sua mocidade
Foi expulsa da cidade
Por seu pai, que inconcebível

Procurava em Carlota
Algo que parecesse
De longe a vigiava
Pra que nada percebesse
Mas, nada que valesse

E por que então Perpétua
Disse que a população
De Santana do Agreste
Fazia a comparação
De Tieta tão gentil
Com Carlota que era hostil
Com qualquer um cidadão?

Tieta permaneceu
Toda a curiosidade
Seu Juízo corroeu
Será que era uma lorota
Ou quem sabe uma anedota
Que de rir ela esqueceu?

Foi quando avistou Carlota
Lá no mato a se encontrar
Apareceu um soldado
Que ficou a lhe agarrar
O negócio esquentou
Que os "finalmente" chegou
Sem muito demorar

O soldado então saiu
E um escravo apareceu
Olhe só que danada
De novo "compareceu"
O cara saiu cansado
Carlota no mesmo estado
Do mato se escafedeu

Foi aí então Tieta
Toda história compreendeu
Que Carlota tinha o "fogo"
Que nela sempre acendeu
E gostar de namorar
Sem com nada preocupar
Foi o que ela percebeu

Nessa hora desse sonho
Tieta se acordou
E correu para a cidade
De noite em casa chegou
E de raiva ela bufando
Foi Perpétua acordando
e o livro nela acertou

Um comentário: