Muitos vem criticando através da internet o sotaque forçado e até em muitas vezes "exagerado" que é percebido na nova novela das 18 horas da Rede Globo (Cordel Encantado). Mas, seria mesmo exagero forçar o sotaque levando em conta o contexto histórico e cultural no qual ela se desenvolve??? É essa a ideia que vim aqui defender.
Toda novela de época exige muito esforço de sua equipe no processo de pesquisa e criação do enredo, o que nos leva a realmente a acreditar que aquilo que estamos vendo na telinha seja real (ou uma realidade virtual), isso vai desde os cenários aos figurinos utilizados pelo elenco principal e elenco de apoio, e por que não na própria maneia de falar e se expressar? Desde de sua estreia no dia 11 de Abril de 2011, vem recebendo criticas de diversos lugares sobre o seu sotaque forçado por parte do elenco, comecei a dar atenção a esse assunto quando percebi que meus amigos faziam os mesmos comentários no cotidiano, falando que não vê ninguém no nordeste brasileiro falar da maneira que é retratada na novela. Ora vejamos... Todas as regiões do país tem seus sotaques peculiares, principalmente se tratando do interior do Brasil, e em que todas as novelas que retratam esse cenário interiorano necessitam por um determinado sotaque retratando a realidade daquela localidade, porque seria diferente com o nordeste brasileiro? defendo o sotaque por mais forçado que seja nessa novela pois ela realmente pede esse sotaque. Não é difícil de entender os motivos. Vou explicar:
Por se tratar de uma novela de época os autores Thelma Guedes,Duca Rachid e Thereza Falcão, precisaram realizar uma pesquisa mais minuciosa que precisariam para uma novela que não fosse de época. Muito foi pesquisado sobre o convivio dos personagens na época em que foram integrados, mesmo se tratando de uma história fictícia o processo de criação foi realizado com muita cautela. Quando puseram os personagens num contexto histórico relacionado a década de 20 e 30 do séc. XX, logo se questionaram sobre como ficaria o sotaque, pois hoje em dia não se faz personagens tão caricatos como antigamente, quando o nordestino era estereotipado e ridicularizado, mas há necessidade visível em se por esses sotaques, não é preciso pesquisar tão a fundo para entendermos os motivos encontrados pelos autores: A educação no interior do Brasil não era tratada da mesma maneira que hoje (mesmo hoje ainda se precisa de mais cuidado e melhorias estruturais para uma educação de qualidade), não havia a comunicação de massa que temos hoje, onde a propagação da internet e televisão, leva informação em tempo real para qualquer lugar do planeta, onde sofremos influências dos sotaques predominantes na mídia Televisiva no Brasil (Sul-Sudeste), e assim modificamos a forma de expressão fonética presente no nosso dia-a-dia, os estrangeirismos também participaram desse processo de transformação linguístico.
Um dos melhores exemplos sobre o assunto é uma música de Luíz Gonzaga chamada "ABC do Sertão", com letra simples porém esclarecedora, Luíz retratou na década de 60 o que já era abordado pela mídia na época, a diferente forma de ler, falar e se expressar do interior nordestino.
Segue abaixo o vídeo com a música e a letra de Luíz Gonzaga "ABC do Sertão", vale a pena conferir.
ABC do Sertão
Luíz Gonzaga
Composição : Zé Dantas / Luiz Gonzaga
Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender um outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
Tem nome de rê
Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
Têm que aprender outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
Atenção que eu vou ensinar o ABC
A, bê, cê, dê, e
Fê, guê, agâ, i, ji,
ka, lê, mê, nê, o,
pê, quê, rê, ci
Tê, u, vê, xis, pissilone e zê
Fê, guê, agâ, i, ji,
ka, lê, mê, nê, o,
pê, quê, rê, ci
Tê, u, vê, xis, pissilone e zê
Para mais informações sobre o assunto, recomendo os Livros do consagrado autor linguísta, Marcos Bagno, em especial sua obra, "Preconceito Linguístico", livro que se tornou uma das minhas paixões no meu 1º período da faculdade de Jornalismo, por ser esclarecedor, divertido e de leitura leve. Boa Leitura!
Para finalizar o Post, trago o vídeo de abertura da novela "Cordel Encantado", belíssima criação para essa trama que promete ser muito interessante, fazendo assim do vídeo um convite aos que reclamam do sotaque na novela, para assistirem e se deliciarem com sua história, pondo assim o seu preconceito linguistico de lado e aproveitando para interagir com o principal papel das telenovelas. O Papel Social que elas exercem na cultura da sociedade, levando informação e entretenimento as diversas classes que a compõe.
Abertura de "Cordel Encantado", Música "Minha Princesa Cordel" por Gilberto Gil e Roberta Sá.
...So burn your poison on the comments.
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