Introdução
Este trabalho da disciplina de Antropologia à Cultura Brasileira foi Solicitado pela professora Tatiana Ferraz, Realizado pelos alunos Fernando Monteiro, Evillyn Cavalcanti, Maryna Oliveira e Rute Rebeca do 2º Período de Jornalismo e Radio e TV da Faculdade Mauricio de Nassau. Esse trabalho tem como Tema Central a Tribo Urbana conhecida como “Torcida Organizada” , com esse trabalho realizado em sala de aula e em campo podemos perceber e desmitificar algumas características e impressões que se tem sobre essa determinada micro-sociedade que é considerada também uma tribo urbana, apesar de preconceitos impostos a ela, podemos perceber com clareza como é seu dia-a-dia, seus costumes, sua ordem, e organização, tendo como objetivo disponibilizar e exibir em relatório e Videoart esse trabalho aos alunos da faculdade e aos visitantes do '7º Congresso Brasileiro de Comunicação Social' da Faculdade Maurício de Nassau.
Tribos Urbanas
Torcidas Organizadas
Torcida, é o nome dado ao coletivo de público que assiste às competições esportivas de um clube, time ou seleção. Torcida Organizada é a nomenclatura para a associação de torcedores de um determinado clube esportivo. Seus membros usam roupas e adereços com marcas, logotipos, cores e características próprias de cada torcida, além de possuir bandeiras e hinos.
A Torcida Uniformizada do São Paulo (TUSP) surgiu em 1939 e foi a primeira torcida organizada do Brasil. Em 1940, a TUPS, criada pelo cardeal são-paulino Manoel Raymundo Paes de Almeida, esteve presente na inauguração do estádio do Pacaembu. Em suas comemorações, usavam serpentinas e confetes, confeccionados pelos próprios torcedores. Após o nascimento da TUSP, surgiram outras torcidas organizadas espalhadas por todo o Brasil, como a Camisa 12 (Sport Club Internacional) em 1940, a Charanga do Flamengo (Clube de Regatas do Flamengo) em 1942 e a Torcida Organizada do Vasco da Gama (Clube de Regatas do Vasco da Gama) em 1944.
Escolha do tema
A escolha do tema sobre torcidas organizadas se deu devido à vontade de mostrar um lado desconhecido dessas torcidas. Focando na diversidade que existe dentro delas. Ao ouvir o nome, torcida organizada, imediatamente nos remetemos a cenas de violência e vandalismo. No entanto, é possível observarmos que a paixão, a vibração e o orgulho existentes na maioria das pessoas que freqüentam esse meio conseguem se opor a violência, mostrando a dignidade presente nesta tribo.
É preciso mudar o conceito que as pessoas fazem das torcidas organizadas. A partir do momento em que as torcidas passam a ser vistas como tribos urbanas é possível que o preconceito e a idéia de vandalismo que são associados a elas diminuam, deixando mais leve uma visão que sempre foi dominada por um pensamento radical.
Organizando o Trabalho
O trabalho foi desenvolvido a partir de visitações aos estádios durante os jogos, visitações as cabines de imprensa de rádio e televisão, visitações as sedes de algumas torcidas e acompanhamento das torcidas escolhidas desde a concentração até a dispersão após os jogos. Procuramos registrar as emoções das torcidas a cada minuto sem interferir na espontaneidade do momento.
Foram feitos vídeos e fotos durante os seguintes jogos:
- Salgueiro x ABC – Série C do Campeonato Brasileiro – 30/10/2010
- Sport x Bragantino – Série B do Campeonato Brasileiro – 02/11/2010
- Náutico x Icasa – Série B do Campeonato Brasileiro – 06/11/2010
- Santa Cruz x Central – Copa Pernambuco – 07/11/2010
- Sport x Santo André – Série B do Campeonato Brasileiro – 12/11/2010
As torcidas escolhidas foram a Brava Ilha (Sport Club do Recife), Santa Chopp (Santa Cruz Futebol Clube) e a Fanáutico (Clube Náutico Capibaribe). Entramos em contatos com os líderes das respectivas torcidas e alguns membros. Tendo eles, nos acompanhado e nos inserido na torcida para a coleta do material de estudo.
Além do contato direto com as torcidas, foi feito um breve estudo sobre cada uma desde suas origens até os dias atuais.
Conceitos Utilizados
No decorrer do trabalho foram utilizados os seguintes conceitos:
- Tribos Urbanas
- Cultura
- Identidade
- Cultura Ideal
- Cultura Real
- Família
- Pureza
- Normas Universais, Alternativas e Especiais
As Tribos Urbanas são constituídas de microgrupos que tem como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns. Apresentam uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir. As torcidas organizadas se inserem no conceito de tribos urbanas pelo fato de seus integrantes se unirem antes, durante e depois dos jogos pelo simples motivo de torcer por um clube em comum. Eles utilizam roupas e bandeiras com símbolos próprios, gírias e hinos referentes ao time.
Cultura são práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço. Refere-se a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma sociedade. É a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período. O ser humano comum, imerso em sua própria cultura, tende a encarar seus padrões culturais como os mais racionais e mais ajustados a uma boa vida. Quando muito, percebe algo que é inadequado e que “poderia ser de outra forma”. O que permite uma percepção cultural mais intensa é o contato com outras culturas. O futebol faz parte da cultura brasileira, logo, torcer por um time está atrelado a cultura. A torcida faz parte disso tudo, é cultura dentro do sentido de cultura.
Identidade consiste na soma nunca concluída de um aglomerado de signos e influencias que definem o entendimento relacional de determinada entidade, humana ou não-humana, percebida por contraste, ou seja, pela diferença ante as outras, por si ou por outrem. Esta sempre relacionada a idéia de alteridade, ou seja, é necessário existir o outro e seus caracteres para definir por comparação e diferença com os caracteres pelos quais me identifico. O que faz a identidade das organizadas são suas características próprias. Uma dessas características são os hinos cantados durante os jogos. Geralmente eles trazem letras que provocam as torcidas rivais ou que enfatizam o amor pelo clube e pela própria torcida. Um grande exemplo desses hinos é o hino cantado pela Brava Ilha: “Vamos vamos meu leão, vamos vamos a ganhar. Vou aonde você for só pra ver você jogar”.
Cultura Ideal consiste em um conjunto de comportamentos que, embora expressos verbalmente como bons, perfeitos, para o grupo, nem sempre são freqüentemente praticados. Muitas vezes, um individuo, pelo seu egoísmo, pode tomar uma linha de ação diferente, ou os valores não revelados, ocultos, podem levar a comportamentos contraditórios. A cultura ideal seria a perfeita, além, de muitas vezes, do alcance comum. De acordo com essa cultura, o correto seria ir ao estádio torcer sem
violência antes, durante e após o jogo. Algumas torcidas organizadas pregam a não-violência usando faixas e fazendo campanhas na internet.
Cultura Real é aquela em que, concretamente, todos os membros de uma sociedade praticam ou pensam em suas atividades cotidianas. Entretanto, a cultura real não pode ser percebida em sua totalidade, apenas parcialmente e, para isso, é necessário que os estudiosos a ordenem em termos compreensíveis. São comuns as brigas causadas pelas organizadas após os jogos. O resultado das partidas influencia bastante nessa questão. Algumas vezes as brigas ocorrem entre membros da própria torcida. Contrariando assim a cultura ideal.
Família é a unidade básica da sociedade formada por indivíduos com ancestrais em comum ou ligados por laços afetivos. Representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. Apesar de toda a violência ainda é possível ver famílias acompanhando o jogo no meio das organizadas.
Normas Universais são formas de conduta que se esperam de todos os membros de uma sociedade. Ex: cumprimento de horário, hábitos morais. As torcidas organizadas torcem independente da maneira como fazem. Torcer é um ato que se encaixa nas normas universais.
Normas Especiais são comportamentos próprios de um subgrupo ou classe social. Ex: modelos entre jovens. O simples fato de serem organizadas faz com que essas torcidas sejam normas especiais.
Normas Alternativas são formas de comportamentos diferentes que a cultura considera igualmente válidas. O torcedor pode escolher entre ficar na torcida normal, junto a outros torcedores, ou ficar na torcida organizada.
Pureza Não há nenhum meio de falar da pureza sem pensar na ordem (policia, juízes, leis) quando uma pessoa ou um grupo de pessoas saem da normatividade vivida pela sociedade e ferem o senso comum a população tende a "limpar" as ofensas cometidas punindo os ofensores de várias formas. Ex: aplicando leis constitucionais. É possível perceber o conceito de pureza sendo aplicado as torcidas organizadas no momento em que o amor e a paixão pelo time se transformam em violência gratuita, depredando ônibus e agredindo verbalmente e físicamente os cidadãos, o resultado desses atos são prisões, mortes e o prejuízo dos times.
Breve Resumo sobre as torcidas escolhidas
Brava Ilha
A Brava Ilha é uma torcida do clube pernambucano Sport Club do Recife. Ela surgiu a partir da idéia de dois amigos que buscavam aplicar suas ideologias a alguma torcida. Entre as já existentes nenhuma se adequava, o jeito foi criar uma nova torcida onde eles pudessem por fim colocar suas ideologias em prática.
Em 2007 iniciou-se a elaboração do projeto e a divulgação na internet. Na tarde de sábado do dia 14 de julho de 2007 nasceu a Brava Ilha. No começo poucas pessoas apareciam para se juntar a torcida, com o passar do tempo a divulgação foi surtindo efeito. No primeiro jogo havia apenas uma faixa, duas bandeiras e dois tirantes improvisados. Atualmente a torcida conta com várias bandeirolas e guarda-chuvas, faixas, trapos e dois grandes tirantes que cobrem a saída 03, local onde se fixa a Brava.
Durante a Copa Libertadores da América a torcida chegou ao seu auge. O costume de acompanhar e receber os jogadores no aeroporto rendeu noticia em vários jornais. Especialmente no embarque do Sport para o Chile, onde enfrentaria o Colo-Colo. Utilizando bandeiras e cantando o hino “Vamos vamos meu leão” os componentes da Brava Ilha fizeram com que o nome da torcida fosse conhecido Brasil afora. Uma das faixas mais conhecidas é a que tem os dizeres: “Apoiaremos sempre, exigimos a vitória!” que é estendida durante os treinos pré-clássico.
Apesar de tudo, alguns torcedores insistem em dizer que existe rivalidade entre a Brava Ilha e a Torcida Jovem do Sport. Até hoje nenhum membro confirmou essa suposta rivalidade. Uma das “regras” dessa torcida seria a de não se auto-promover, o que faz com que seus membros evitem qualquer maneira de promover a torcida evitando desde brigas até ingressos oferecidos pelo clube.
A Brava Ilha também desempenha um forte papel social levando faixas de protesto contra inúmeros assuntos, como a faixa com os dizeres “Palestina Livre” contra a guerra na Palestina. Outro protesto já feito foi contra o preço das passagens de ônibus. Nessa questão podemos notar um pouco da cultura ideal.
Os membros não denominam a torcida como uma “torcida organizada”, apesar disso é possível notar a organização que existe ao estender as faixas e bandeiras, delimitar o local onde se estabelecem e torcer sem violência e sem vandalismo.
Fanáutico
A torcida Jovem Fanáutico é uma torcida organizada do Clube Náutico Capibaribe. Foi fundada em 05 de fevereiro de 1984 por Murilo, Mário (falecido), Ricardo, André Gordo e Antônio Carlos, cinco jovens que tinham o intuito de criar uma torcida para que os jovens pudessem apoiar o time a todo momento.
A torcida se localiza atrás de uma das barras, próximo ao placar. Utilizam-se bandeiras, faixas e adereços. Possuem camisas e símbolos próprios estabelecendo assim uma identidade junto aos membros.
O site, totalmente personalizado, reforça a identidade construída com os membros e pessoas que simpatizam com a torcida. Apesar de pregar a não-violência nos estádios, é comum ver a Fanáutico envolvida em brigas com torcidas rivais e por muitas vezes entre membros da própria torcida. Nesse ponto é possível perceber traços da cultura ideal no momento em que se colocam contra a violência, porém, a cultura real é vista quando, ao sair dos estádios, a torcida se envolve em brigas.
Deixando a violência de lado, a Fanáutico realiza ações solidárias como a entrega de presentes para crianças carentes no dia das crianças e recepções as torcidas “aliadas”.
Santa Chopp
A Santa Chopp é uma torcida pernambucana do Santa Cruz Futebol Clube. Surgiu da revolta de três amigos cansados de ver desavenças, brigas e discussões dentro da torcida Inferno Coral. Os estudantes se juntaram numa mesa de bar para pensar num modo de ajudar a demonstrar o grande amor que sentiam pelo time.
Após pensar no nome que dariam, veio a parte mais difícil que era divulgar a torcida pelas emissoras de televisão, rádio e internet. Foi assim que no dia 07 de março de 2009 a torcida Santa Chopp chegava ao estádio do Arruda para mostrar que é possível cantar durante 90 minutos sem cometer nenhum ato de vandalismo.
É na arquibancada inferior bem em cima do escudo símbolo do time que a Santa Chopp se situa. Traz consigo Bandeiras, faixas e uma bateria que canta seus hinos até que o jogo acabe.
Não existe rivalidade entre a Santa Chopp e as demais torcidas do clube, o que existe são as reuniões sempre focadas em promover o time.
Preocupados também com a questão social e com os deveres de cidadãos os integrantes da torcida fazem doações em asilos, orfanatos, e a cada 6 meses doam sangue.
Os sócios encontram um código de ética que é seguido a risca e que exige que os sócios não sejam condenados na justiça por razões relacionadas à violência.
Considerações Finais
A experiência de acompanhar um pouco as torcidas organizadas teve grande valor para o grupo. Foi possível perceber o enorme esforço que é feito por seus integrantes para mudar a visão que a sociedade tem sobre elas. Nem sempre a violência toma conta de tudo, ainda é possível perceber o amor que essas torcidas sentem por seus clubes. O show de cores e música que é proporcionado nos estádios em todo o Brasil deveria ser mais valorizado pelas pessoas que insistem em criticar as torcidas organizadas. Muita coisa precisa mudar, mas elas nos mostram que é possível torcer sem violência e principalmente que é possível torcer.
Nosso trabalho, que orgulho! Foi sofrido mas valeu MUITO a pena. Aprendemos muito e tivemos a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas que nos ajudaram bastante. E esse ano tem mais!
ResponderExcluirAguardando o vídeo!
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